domingo, 19 de agosto de 2012

Zé Serra anda de trem e acha que o transporte na capital não piorou

Consta que, Zé Serra, pegou um helicóptero, para pegar um trem suburbano, para fazer campanha eleitoral, para depois pegar um helicóptero e voltar ao ninho de empresários.

Como não tenho viés moralista, não vou comentar o uso ou não de helicóptero na campanha. Se os organizadores da campanha do Zé acham que isso é um bom uso do dinheiro dos doadores e do fundo partidário para um candidato que já é ultra reconhecido e não tem nada de novo para falar, o problema é deles.

O que me incomoda aqui são as besteiras ditas e o simbolismo do ato. Na foto publicada no O Estadão, serra ficou com cara de tacho sendo o único tentando sorrir enquanto, atrás deles, os passageiros já se resignaram com a má qualidade e a falta de lógica do transporte público na metrópole paulistana que Serra pretende governar mais uma vez.

Nas entrevistas, Serra concluiu que, se as coisas não melhoraram, também não pioraram e disse que vai fazer mais. E, segundo a matéria, deve ter provado suas declarações em dados da CET. Quando foi - brevemente - prefeito, a média do congestionamento diário às 19 horas era de 140 km, hoje está em cerca de 115 km.

Os jornalistas do O Estadão mencionam as obras de expansão das marginais como sendo um fator positivo.

Depois de ler a matéria fiquei aqui pensando: como pode ser que encurtou o trânsito em horário de pico se a sensação é de piora?

Eu tenho a sorte de não ter que atravessar a cidade em horário de pico, mas vejo o que acontece, leio e, quando saio, tenho na pele a sensação de ser uma sardinha numa lata subterrânea como o Metrô. Só para ficar no congestionamento das vias que receberam em média mais de 500 carros novos por dia nos últimos anos, a Av. Braz Leme, de manhã, congestiona desde poucos metros da rua Maria Curupaiti. Há um ano, o congestionamento começava uns 100 metros depois da TOTVS.A

No Metrô, a sensação é a mesma. Em geral, as plataformas estão abarrotadas e mesmo a nova linha Amarela já está velha e superlotada, principalmente por ter sido inaugurada com mais de uma década de atraso. Andamos nos longos corredores de suas novíssimas estações guiados e apertados como gado indo para o matadouro sob o olhar irônico do Neymar nas propagandas. Todas as estações e linhas estão assim.

Transitar de carro é ainda pior. Vira aqui, o trânsito pára, vira ali, o farol 'inteligente' do Serra tá quebrado. Chegar no horário significa reduzir os compromissos durante o dia a um só para ser viável. E nem vou falar dos caríssimos ônibus, lotados, com motoristas mal humorados e cobradores grossos.

Portanto, as coisas pioraram sim. O que acontece é que Serra está usando a unidade errada para contar a história. É como se um engenheiro fosse calcular a quantidade concreto necessária para fazer um pilar de uma ponte e usasse apenas a altura da ponte.

Não funciona. Falar que o transporte na cidade não piorou porque a fila de carros em um determinado horário chega até Campinas e volta só 10% do caminho ao invés de chegar a Campinas e voltar 40% é tentar nos enganar e tomar os louros para si - com conivência dos jornalistas - por causa da expansão das vias.

Mas até as baratas paulistanas sabem que tudo piorou nestes últimos anos e nem uma inovação neste setor foi apresentada pelos prefeitos e governadores. Eles só fizeram alargar vias para caber mais carros e inaugurar parcialmente novas linhas de trens e metrôs (ainda faltam estações cruciais na citada linha amarela e os moradores da Freguesia do Ó ainda estão esperando o fiscal de desapropriação bater na porta).

As baratas paulistanas, que depois de décadas de conviver com espertos políticos nos balcões de negócios da cidade, sabem um pouco de lógica geométrica. Se você alarga um lado de um retângulo, a área total aumenta. Ou seja, se você introduz mais pistas nas marginais, cabem mais carros na mesma distância. Portanto, o efeito 'ampliação da marginal' foi o esperado: reduziu-se canteiros, aumentou-se superfície asfaltada e TARÃ! cabem mais carros no mesmo espaço linear ao longo do Rio. E pior, convidou mais paulistanos a usar seus carros.

Elementar minha cara Blattidae.

Teria Serra que medir o tempo médio do paulistano para se locomover. Pela qualidade e espaço livre por metro quadrado do usuário de transporte público e individual. Do custo diário - de consumo de gasolina ou de tarifas de ônibus-trem-metro integração para chegar a algum lugar.

A sensação e a realidade não condizem a conclusão de Serra. Piorou sim. E continuará a piorar se realmente não for dada prioridade para o transporte público, incentivos reais para o transporte alternativo como bicicleta e restrições cada vez mais pesadas ao uso do carro na cidade.

E os jornalistas? Bom, estes podem escolher apoiar teses enganadoras o quanto quiser, mas as baratas paulistanas não precisam dos jornais para saber qual a realidade da cidade e calcular quanto tempo vai levar para chegar ao seu compromisso sem se preocupar se Campinas tá perto ou longe.(para eles sugiro leitura deste artigo)