sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ciclovia do Rio Pinheiros - Nem campo, nem cidade

Depois de mais de dois anos de sua inauguração, finalmente decidimos conhecer a ciclovia do Rio Pinheiros. Badalada pelas filas nos acessos em 2010, imaginava algo inovador na cidade, pois sempre, quando passava por lá, me imaginava pedalando livremente e sem problemas para chegar de A a B em pista reta, bem cuidada e cuidadora dos ciclistas.

Sempre tive a crítica comigo de que a ideia, apesar de boa, era incompleta exatamente por ligar pontos aleatórios da cidade por mera conveniência da empresa estatal que é 'dona' das margens, a CPTM.

Minha outra crítica eterna, como ciclista urbano há quase 20 anos, aos administradoras da capital paulista, é a visão de que bicicleta é lazer, não meio de transporte.

Mas, finalmente, nestes dias de descanso de final de ano, fomos experimentar a ciclovia do Rio Pinheiros.

A empolgação inicial foi brecada pelo forte odor de merda, de água parada e dejetos humanos depositados no canal, que um dia fora rio. Sabia que iria enfrentar isso, pois já tinha esta sensação nos vagões dos trens onde o cheiro de merda se misturava com o ar condicionado e a música clássica destas composições civilizadas e civilizatórias.

De imediato, a minha sensação de estar desbravando uma galeria de esgoto foi recebida por uma pichação na ponte próxima ao acesso da Cidade Universitária: “Rio limpo pescar, nadar, viver. Rio limpo...”.

Obrigado pichador. É o que eu sempre penso quando olho nossos rios-esgotos. Mas, o que imaginava ser superável - afinal, os benefícios da ciclovia iriam compensar este cheiro ao qual me imaginava acostumar-me -, não o era. O cheiro avolumava-se numa sensação de náusea reforçada pela visão das entranhas da destruição da natureza e cursos de água e que, após minutos, se transmutou em uma dor que cabeça que sabia que, após o trajeto feito, se estenderia.

E assim saímos a pedalar, apesar de tudo. Linha quase reta, como era de ser uma pista às margens de um rio, ponto mais baixo da cidade, sem colinas, nem morros, nem ladeiras.


Nos primeiros três quilômetros, a facilidade da pista deu lugar ao desaconchego da visão de um rio extremamente poluído, visivelmente assoreado por lodo e dejetos sólidos, dando para ver ilhas de areia e entulho em toda sua extensão. Na fina lâmina líquida – pois é duvidável se podemos chamar o líquido preto-esverdeado, em fermentação, de água – o resíduos flutuantes como corpos de animais, garrafas pets, madeiras, isopor e outras coisas que lá ousavam pousar – dançavam, não ao movimento da corrente, pois esta inexistia, mas ao movimento do vento, que assoprava um boa brisa.

Não dava para não olhar as águas sujas sendo despejadas por canos e entradas por toda a parte, de fato, a facilidade da pista permitia esta viagem pelas entranhas da urbe excludente, destruidora e poderosa. Pedalar ao lado pilhas de entulho coletados do rio e o suposto-rio em si é uma experiência, pensei comigo mesmo, que todos os alunos de ensino fundamental e médio deveriam ter.

Mas aí, comecei a prestar atenção na outra margem: a do leito dos trilhos de trem. Separados devidamente por uma cerca e alguma vegetação, éramos excluídos das estações ao longo da linha Esmeralda da CPTM que liga Osasco ao Grajaú.

Das plataformas, os passageiros nos olhavam com curiosidade, a esperar o expresso. Senti-me como um animal de zoológico. Um ser a parte da cidade. Coisa que não cabia na urbe.

Projetada convenientemente como uma opção de lazer, a ciclovia do Pinheiros atraía, em pleno dia de semana, apenas os 'atletas'. Quase nenhum dos ciclistas estava lá indo e vindo nos afazeres do dia a dia da cidade. E esta é a minha crítica principal.

Foram quase R$5 milhões gastos nesta pista, ou mais ou menos R$233 mil por quilômetro. Da Lapa à usina da Traição, pista nova, mas da Traição ao Grajaú, apenas uma repintura da pista de manutenção já existente e, chocadamente, pouquíssimos pontos de acesso. São apenas quatro, com promessas não cumpridas de mais, ao longo de 18 estações da linha Esmeralda.

Arriscamos, mesmo depois de sol escaldante sem uma sombra sequer, a continuar o trajeto após a Traição. E foi, a partir daí, que se acirrou este sentimento que descrevo agora, principalmente na volta do nosso trajeto de 24 desoladores quilômetros.

Passávamos por debaixo de pontes, antes nunca feito por nós, cidadãos da classe média paulistana, únicos e bem vindos pontos de descanso e sombra. Descanso do sol implacável, momento de se integrar com... o concreto.

Ao passar o Parque do Povo, ao lado da estação Cidade Jardim, inacessível para nós ciclistas urbanos, tive certeza de que não era apenas uma alienação minha, mas sim uma intenção do planejadores da cidade: quem quer pedalar em São Paulo, o faz à sua conta e risco, e será punido por tamanha ousadia.

Sim, punidos. A ciclovia do Pinheiros não é integrada à cidade. E tampouco é campo. É um não lugar. Um limbo. Um castigo, sem árvores, com pouquíssimos pontos de acesso, com fedor, entulho e tráfego de carros e caminhões de manutenção que nos empurram para fora da pista.

No final, de volta ao nosso ponto de partida, Estação Cidade Universitária, punidos por ter que descer da bicicleta para empurrar passarela acima com mais de 10 rampas, me senti aliviado ao pedalar de novo na cidade, debaixo de árvores, margeados por casas e vida, longe do cheiro de degradação.

Nós, ciclistas urbanos, conhecemos bem este sentimento de exclusão. Somos, o tempo todo, jogados para as sarjetas, fechados por caminhões e carrões caros com vidros fumês, escondidos em estabelecimentos que abrem milhares de metros quadrados para estacionar carros mais sem um único bikepark que não seja convenientemente não-pensando num antro vazio.

Mas, tudo isso, é estar na cidade, é possível lutar por seu espaço após optar pela bicicleta como meio de transporte.

Na ciclovia mais famosa da cidade, isto não é possível, estar lá é ser excluído da cidade, sem integração com parques e outras ciclovias, sem sombras e jogados, como entulho, lixo, esgoto, na margem de um rio que um dia decidimos não querer.

É uma experiência essencial e obrigatória para pensar nossa cidade, mas duvido que a repetirei, pois, lá, soube exatamente a cidade que não quero.

sábado, 17 de novembro de 2012

Abraçadas ao mensalão, as oposições recusam inovar

Ao escolher o moralismo, na forma do 'mensalão', para atacar o governo, as oposições empurram com a barriga uma necessária revisão programática. Além disso, ao encurralar o PT na trincheira, inviabilizam a reforma política no curto prazo.

Ficou bem claro que nestas eleições municipais, principalmente nos grandes centros urbanos com mais de 500 mil habitantes, o PSDB e o DEM escolheram como estratégia eleitoral o debate dos valores, certos de que a população estaria revoltada com o PT dos mensaleiros sendo julgados no STF em uma ação milimetricamente cronometrada para coincidir com os dois turnos do pleito municipal.

Em nenhum lugar isso foi mais óbvio do que em São Paulo.

Em um atropelo dos diretórios distritais e das diferentes tendências e lideranças paulistas  - riquíssima pois, afinal, os tucanos nasceram em SP - o candidato presidencial derrotado em 2006 e 2010, José Serra, foi escolhido.

Isto não só sinalizou a continuidade da administração mal-avaliada de Kassab, mas também abandonou qualquer esperança de renovação do seu partido. Renovação, não só de lideranças, mas também programática.

Serra simboliza, como escrevi várias vezes, o velho. Ele personifica a política do Estado Mínimo, das parcerias duvidosas com as ONSs, do apoio da velha mídia e da reprodução da aliança centro-direita com uma constelação de partidos mais ou menos conservadores.

No campo de propostas para a cidade, não houve nada de novo. A visão de mundo da equipe montada por Serra - e a rejeição de uma outra possível equipe com quadros mais progressistas - não poderia oferecer ao paulistano qualquer coisa de novo. Kassab, é claro, apoiou seu mentor Serra, mas a busca foi pelo PP do Maluf, o DEM, o PPS (que até tentou vôo próprio) e outros pequenos partidos que restaram depois da colheita eficiente feita por Lula,

Mas, voltando à esfera nacional, ao eleger o mensalão como prioridade, a oposição mostrou aos eleitores que não tinha programa alternativo ao que estava aí. Entre escolher um candidtato que diz que faria o que está sendo feito com mais moralidade, e deixar quem está no poder continuar uma obra bem avaliada, a população vem escolhendo a segunda opção, mesmo porque os eleitores não veem os tucanos como um partido limpo de corrupção e de desmandos.

Em resposta, ao invés de debater programaticamente suas posições, o governo e o PT não deixam as pessoas esquecerem, e ensinam aos mais jovens, que, no governo, o PSDB e o DEM, privatizaram a preço de banana, geraram desemprego, submeteram o país a políticas comerciais dos EUA, enxugaram o Estado onde não devia e quebraram o país várias vezes.

Falar que sem a privatização não haveria centenas de milhões de celulares em circulação é mesma coisa que falar para uma criança que ela pode brincar na hora do recreio. O efeito é nulo.

A população está cobrando outra coisa. A conquista do direito à telecomunicação já está assimilado - e foi subsituído pelo debate sobre o acesso à internet de qualidade - e a nova geração de eleitores não está interessada no que foi o debate - ideológico e prático - sobre as privatizações, e, muito menos, no seu simulacro mais de uma década depois.

A população quer garantias da continuidade do que foi conquistado nos últimos anos e é isso que a oposição não oferece. A população quer ver o que os líderes pensam sobre o futuro do país, e é isso que os tucanos não querem mostrar.

Não que o PT e os partidos de situação sejam melhores, mas, repetindo, entre um governo bem avaliado e outro que oferece retórica, a escolha é óbvia.

O mais triste é que com as iminentes prisões do réus da AP 470, a oposição presta mais atenção à retórica comemorativa inconsequente da imprensa - com direito a  especulação se Dirceu pode ou não ser assassinado na prisão - do que ao recado que saiu das urnas.

Álvaro Dias, um dos baluartes do moralismo tucano, horas após o pleito deste ano, avaliou que há uma crise de representatividade dos partidos, todos os partidos. Mas, seu ato subsequente foi abandonar o PSDB, mostrando que os tucanos têm pouca noção do momento pelo qual a nação passa.

Queremos sim uma oposição responsável que ofereça alternativas de visões de país e de futuro. Necessitamos de uma oposição de esquerda e de direita ao centrismo pragmático do PT que há 10 anos está no poder.

Os desafios são imensos e as respostas não virão de posições antigas e mofadas de um neoliberalismo falido.

A melhor notícia da política que poderia ser veiculada hoje seria a decisão da cúpula tucana de organizar conferências regionais um congresso nacional de vários dias para avaliar as eleições e refundar o partido para enfrentar o próximo pleito daqui dois anos. Isto forçaria o PT a parar para pensar um pouco e baixar a guarda levantada com as condenações da AP 470, conforme a nota emitida esta semana.

Mas isto seria visto com lamber feridas. Além disso, os eternos donos do poder tucano se sentiriam ameaçados, pois suas caras posições ideológicas poderiam finalmente serem jogadas no lixo. E, afinal, nem todas novas lideranças tucanas  caberiam no Fasano nos jardins paulistanos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Zé Serra anda de trem e acha que o transporte na capital não piorou

Consta que, Zé Serra, pegou um helicóptero, para pegar um trem suburbano, para fazer campanha eleitoral, para depois pegar um helicóptero e voltar ao ninho de empresários.

Como não tenho viés moralista, não vou comentar o uso ou não de helicóptero na campanha. Se os organizadores da campanha do Zé acham que isso é um bom uso do dinheiro dos doadores e do fundo partidário para um candidato que já é ultra reconhecido e não tem nada de novo para falar, o problema é deles.

O que me incomoda aqui são as besteiras ditas e o simbolismo do ato. Na foto publicada no O Estadão, serra ficou com cara de tacho sendo o único tentando sorrir enquanto, atrás deles, os passageiros já se resignaram com a má qualidade e a falta de lógica do transporte público na metrópole paulistana que Serra pretende governar mais uma vez.

Nas entrevistas, Serra concluiu que, se as coisas não melhoraram, também não pioraram e disse que vai fazer mais. E, segundo a matéria, deve ter provado suas declarações em dados da CET. Quando foi - brevemente - prefeito, a média do congestionamento diário às 19 horas era de 140 km, hoje está em cerca de 115 km.

Os jornalistas do O Estadão mencionam as obras de expansão das marginais como sendo um fator positivo.

Depois de ler a matéria fiquei aqui pensando: como pode ser que encurtou o trânsito em horário de pico se a sensação é de piora?

Eu tenho a sorte de não ter que atravessar a cidade em horário de pico, mas vejo o que acontece, leio e, quando saio, tenho na pele a sensação de ser uma sardinha numa lata subterrânea como o Metrô. Só para ficar no congestionamento das vias que receberam em média mais de 500 carros novos por dia nos últimos anos, a Av. Braz Leme, de manhã, congestiona desde poucos metros da rua Maria Curupaiti. Há um ano, o congestionamento começava uns 100 metros depois da TOTVS.A

No Metrô, a sensação é a mesma. Em geral, as plataformas estão abarrotadas e mesmo a nova linha Amarela já está velha e superlotada, principalmente por ter sido inaugurada com mais de uma década de atraso. Andamos nos longos corredores de suas novíssimas estações guiados e apertados como gado indo para o matadouro sob o olhar irônico do Neymar nas propagandas. Todas as estações e linhas estão assim.

Transitar de carro é ainda pior. Vira aqui, o trânsito pára, vira ali, o farol 'inteligente' do Serra tá quebrado. Chegar no horário significa reduzir os compromissos durante o dia a um só para ser viável. E nem vou falar dos caríssimos ônibus, lotados, com motoristas mal humorados e cobradores grossos.

Portanto, as coisas pioraram sim. O que acontece é que Serra está usando a unidade errada para contar a história. É como se um engenheiro fosse calcular a quantidade concreto necessária para fazer um pilar de uma ponte e usasse apenas a altura da ponte.

Não funciona. Falar que o transporte na cidade não piorou porque a fila de carros em um determinado horário chega até Campinas e volta só 10% do caminho ao invés de chegar a Campinas e voltar 40% é tentar nos enganar e tomar os louros para si - com conivência dos jornalistas - por causa da expansão das vias.

Mas até as baratas paulistanas sabem que tudo piorou nestes últimos anos e nem uma inovação neste setor foi apresentada pelos prefeitos e governadores. Eles só fizeram alargar vias para caber mais carros e inaugurar parcialmente novas linhas de trens e metrôs (ainda faltam estações cruciais na citada linha amarela e os moradores da Freguesia do Ó ainda estão esperando o fiscal de desapropriação bater na porta).

As baratas paulistanas, que depois de décadas de conviver com espertos políticos nos balcões de negócios da cidade, sabem um pouco de lógica geométrica. Se você alarga um lado de um retângulo, a área total aumenta. Ou seja, se você introduz mais pistas nas marginais, cabem mais carros na mesma distância. Portanto, o efeito 'ampliação da marginal' foi o esperado: reduziu-se canteiros, aumentou-se superfície asfaltada e TARÃ! cabem mais carros no mesmo espaço linear ao longo do Rio. E pior, convidou mais paulistanos a usar seus carros.

Elementar minha cara Blattidae.

Teria Serra que medir o tempo médio do paulistano para se locomover. Pela qualidade e espaço livre por metro quadrado do usuário de transporte público e individual. Do custo diário - de consumo de gasolina ou de tarifas de ônibus-trem-metro integração para chegar a algum lugar.

A sensação e a realidade não condizem a conclusão de Serra. Piorou sim. E continuará a piorar se realmente não for dada prioridade para o transporte público, incentivos reais para o transporte alternativo como bicicleta e restrições cada vez mais pesadas ao uso do carro na cidade.

E os jornalistas? Bom, estes podem escolher apoiar teses enganadoras o quanto quiser, mas as baratas paulistanas não precisam dos jornais para saber qual a realidade da cidade e calcular quanto tempo vai levar para chegar ao seu compromisso sem se preocupar se Campinas tá perto ou longe.(para eles sugiro leitura deste artigo)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Faltam quantas creches em SP?

Esta semana acredito que nem as baratas paulistanas se surpreenderam com a dissimulação dos nossos governantes. Kassab, em um balanço das 223 metas para a cidade, admitiu ao SPTV  que sim, faltam vagas em creches para 150 mil crianças em São Paulo.

Disse o alcaíde que é um investimento contínuo e, portanto, difícil de fazer.

Segundo balanço do Movimento Nossa São Paulo esta é uma das 141 metas definidas em 2009 e que ainda não foram atendidas. Apenas 36% destas metas foram dadas como cumpridas pelo movimento.

Kassab, no entanto, prefere inverter a informação e fala de 73% de eficiência no cumprimento destas metas pelo simples fato de que elas estão sendo implementadas (isso desde 2009, se me lembro bem, e seria tempo para um aluno de creche graduar para a escola infantil).

Ontem, o SPTV nada questionou, nada rebateu, apenas aceitou a explicação de Kassab e hoje nem disponibiliza este vídeo em seu site para conferência.

O fato é que o vice do candidato Serra, ex-secretário municipal de Educação Alexandre Schneider,  é um dos responsáveis por deixar 150 mil mães paulistanas rebolando para poder achar trabalho ou, se achar, ter que arcar do seu bolso o dinheiro para que alguém tome conta de seus filhos.

Ao Estadão, Serra fez pouco caso disso: ainda faltam vagas, mas as que existem são de boa qualidade, disse (ironizou?) ele.

Escolhendo o continuismo (leia-se Alexandre Schneider do PSD de Kassab) de sua cria, Serra mostra que nada pode mudar se eleito.

Pelo menos as baratas paulistanas não serão afetadas pela falta de políticas para a área de educação infantil: suas crias têm ootecas resistentes a quase tudo, e quando nascem - baratinhas brancas - elas sabem como sobreviver instintivamente escondendo-se da visão dos predadores (e dos governantes).

Será que teremos que adotar similar estratégia reprodutiva para viver em SP?

terça-feira, 3 de julho de 2012

Serra opta pela continuidade da obra de Kassab

Se o acordo entre PT e PP criou tanto alarme pela possibilidade de dar espaço para uma força conservadora num eventual governo petista na cidade de São Paulo, o acordo para o vice do Serra mostra que o tucano aposta na continuidade da atual administração.

Seu vice, do PSD do Kassab, será o ex-secretário municipal de Educação Alexandre Schneider. A escolha causou furor no campo Tucano, pois, segundo reportagem da Carta Capital.

A grande imprensa prestou atenção nesta briga no ninho Tucano e seu significado  e enquanto Serra continua a fazer rir até a mais ingênua das baratas paulistanas ao tentar se passar de mocinho.

Segundo o semanário, ele disse que a escolha não foi por barganha política, e sim  porque " “O Alexandre tem uma suavidade indestrutível”, disse Serra, segundo quem Schneider será seu “lado bonzinho”".

domingo, 1 de julho de 2012

São Paulo dobra número de metas cumpridas no final do mandato, mas ainda está abaixo dos 50%

Para o Movimento Nossa São Paulo, apenas 36% das metas autodecalaradas pela prefeitura para a cidade de São Paulo em 2012 foram atingidas. Para a prefeitura, 73% de eficiência foi atingido e para o G1, tanto faz, o que vale é o registro de que os pré-candidatos estiveram presentes ao evento liderado por Oded Grajew (mas nem Serra nem Russomano aparecerem por lá).

O balanço apresentado pelo Movimento Nossa São Paulo é bem detalhado e é resultado de anos de trabalho que acompanhei desde o começo e que visa trazer critérios objetivos para avaliação das adminsitrações públicas. Pretendo trestrinchá-lo aqui em posts posteriores, pois são uma boa análise da cidade.

Transformada em lei, a definição, acompanhamento e cumprimento destas metas estão disponívels no site da prefeitura Agenda 2012, que vai até o final do mandato de Kassab.

Elas são bem detalhadas e contêm informações para cada uma das 31 subprefeituras (pois cada uma tem suas prioridades) e dos 96 distritos. No evento foram também apresentadas propostas para os candidatos presentes.

Segundo o quador resumo - que foi a única informação a ser divulgada pela imprensa na maioria dos casos - dos 223 programas, apenas 81 foram cumpridas. Do restante, 141 estão em andamento e 1 das metas não foi iniciada.

Em junho de 2011, o relatório da prefeitura mostrou que 15% das 223 metas tinham sido cumpridas, 83% estavam em execução e 3% ainda não tinham sido iniciadas. Interessante esta comparação, mostrando que de junho 2011 para cá houve uma aceleração no cumprimento das metas.

Mas, para além do quadro resumo, é preciso entrar nos detalhes e daí entender quais as prioridades desta administração.


Meta cumpridas 81 36,77%
Em andamento 141 63,23%
Não iniciada 1 0,45%
Total 223 100,00%

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A política 'minutófila'

O cálculo é feito em minutos neste estágio das campanhas eleitorais. Quanto mais exposição na TV, melhor. Acredito que os marqueteiros políticos tenham lá suas razões num mundo ultramediado pela televisão, mas há algo de perverso nesta equação já que considera os eleitores como postes que acreditam em belas imagens, discursos televisivos e soluções de gaveta.

E não existe um candidato que tenha coragem de quebrar esta lógica, mesmo que nas mesas de debates falem mal do sistema e a favor de uma reforma política. Estão todos rendidos e não vêem as alternativas que existem ao discurso hipodérmico da televisão.

Fechadas as alianças em torno da TV, tenho certeza que vão todos se embrenhar pelas redes sociais na Internet. Mas o diálogo não é o forte deles. Não só por que não sabem se comunicar com a população de maneira eficiente - com contratação de estagiários para ficar twitando e facebuqueando -, mas, principalmente, porque não têm conteúdo para oferecer já que não têm programa. Que programa haveria de existir entre PT e PP?

Personificada a eleição em torno de malufs, haddads, lulas, serras, alckmins e efeahagacês sobra pouco espaço para elaborar programas realmente inovadores.

Vão enunciar suas ideias, vão despejar carinho e atenção aos internautas, vão falar de segurança (sim, precisamos de mais segurança), saúde (o sistema público está falido), educação (dois professores por sala de aula), sustentabilidade (o meio ambiente é importante) e por aí vai. E vão existir os trolls dos dois lados fazendo o jogo sujo comandado pelas cúpulas enquanto Serra vai posar de John Wayne e falar que odeia o 'vale tudo'.

Espero que esteja errado, mas acho pouco provável não estar. O candidato que conseguir transpor esta lógica terá uma enorme oportunidade nas mãos.

Os veículos de comunicação estão desacreditados já que o esforço sobrehumano dos articulistas dos jornalões como Toledo, Noblat e outros de pintar de rosa e boas intenções a campanha do Serra e de podre a de Haddad (cujo nome evitam mencionar a todo custo) não convencem nem a mais inocente das baratas paulistanas.

Em tempo, comentário da imprensa hoje:





Forçada pela blogosfera e depois do estrago feito, a Folha hoje publica foto de Alckmin sorrindo de braços dados com Maluf em matéria falando que Maluf perdeu espaço em seu governo. Isto é cinismo, já que o fato da participação do Maluf no ninho tucano foi escondido até agora.





É uma brincadeira de mal gosto a coluna do José Toledo no Estadão de hoje tentando minimizar a importância dos minutos para Serra, como se os tucanos não tivessem tentado de tudo para embarcar Maluf e seus 1:35 na sua campanha.  













terça-feira, 19 de junho de 2012

Umas e outras - o estrago de Maluf e a saída de Erundina

Como dizem os sábios: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O PT pagar o preço pedido por Maluf é uma coisa e o PSDB não querer pagar o cobrado é outra coisa.

Mas, o fato é que a cobertura dos jornais paulistas e nacionais é enviesada para dar a impressão que pragmatismo político é só do PT, enquanto os direitistas, tucanos e outros políticos afins, não se sujam.

Balela. Eles estão sujos até os colarinhos que cobrem suas gravatas Hermès. Até ontem, Maluf ditava regras em algumas repartições do Palácio dos Bandeirantes e foi duramente assediado pelo Serra, que não conseguiu, imagino eu, sobrepor as trincheiras da arrogância e ambição alckmistas que visam sucesso em 2014.

Mas os jornalões omitiram este fato e deram a impressão de que Maluf foi criação do PT e que só o PT se rebaixaria a fazer aliança com um procurado pela Interpol. Cardeais como são os tucanos, não sairiam, segundo a omissão dos articulistas políticos dos jornais, de sua altivez moral para tentar algo sequer parecido. A outra sujeira dos editorialistas paulistas é deixar a impressão de que Maluf pessoalmente assumiria algum cargo no governo Dilma...

Mas, São Paulo, por mais poderoso que seja, não é páreo para um cargo no governo federal. Isto é uma coisa (mal contada pela grande imprensa e melhor contada na blogosfera por Altamiro Borges e pelo Zé Dirceu).

E deu na outra coisa, que é exatamente o preço político desta aliança 'minutófila': a saída - por enquanto, pois em política nada é para sempre - da Erundina da campanha do Haddad.

Os estrategistas talvez estejam fazendo as contas e neste momento consideram mais importante contar segundos do que ter a coerência programática.

De uma certa maneira, o resultado foi o que os jornalões queriam ao tentar esconder do público os verdadeiros protagonistas desta pantomima sem graça. No entanto, ao meu ver, perde a candidatura de Haddad com esta brincadeira. Maluf agrega minutos - e, mais importantemente, os tira dos tucanos -, mas não traz votos.

Todas as baratas paulistanas sabem que quem vota Maluf não vota PT e quem vota PT não gosta nem de ver a sombra de Maluf. E duvido muito que os cinco pontos ganhos por Haddad tem a ver com Maluf. Mas quando se vê imagens iconoclásticas como as que vimos estampadas em toda a imprensa hoje, a rejeição é enorme e nem Erundina conseguiu segurar a barra.

Estaria tudo bem se a verdade fosse como querem os articuladores petistas que 'recebeu apoio' do Maluf, como, aliás já aconteceu antes. Mas não foi isso que deve ter ocorrido.

A negociação foi dura e, temo eu, programática. Se não fosse, Erundinda, tão clara na suas entrevistas no final de semana, não teria abdicado sua posição na chapa de Haddad. E Zé Dirceu, talvez um dos mais astutos analistas políticos deste país deu o recado bem dado no seu blog: a decisão é para a cúpula, e não se metam.

Escreveu o ex-presidente do PT:  "Petistas e aliados, por favor, sem esquecer que o foro mais adequado para debater e buscar a solução dessa questão é a coordenação e a direção política da aliança e da campanha do Fernando Haddad. Deflagrar um debate em torno disso em público e pela mídia é dar chumbo ao adversário".

É claro que há a necessidade de tomadas de decisões pelas cúpulas, mas a questão programática é a única que trará alguma qualidade à política é a última que cobram os jornalistas. É preciso discutir programas, pois eles contêm alguma solução de deixam claro o que é um campo e o que outro, antes que marqueteiros misturem as coisas.

Piada pronta: aproximação programática entre PP e PT

"são as ações de combates às enchentes, às crises da saúde e da educação"

Parece uma piada pronta para tirar proveito da falta de memória do paulistano, ou uma reportagem mal feita. Segundo o Estadão, o presidente do PT paulista, Edinho Silva, existe uma visão comum entre o PP e PT que favoreceu a aliança que trouxe Maluf para os braços do governo federal com o controle de uma das secretarias federais mais ricas da união, a de saneamento.

Eu, que sou da laia que tenta entender a política além da movimentação puramente partidária na disputa por tempo em TV, sempre busco alguma informação que indica uma visão mais programática. Mas nesse caso é difícil de engolir.

Como que o PT e o PP podem ter visões confluentes nos assuntos mencionados?

Enchentes
PP, em especial Maluf, é o idealizador do asfaltamento da cidade, do minhocão, das avenidas cobrindo várzeas dos rios, pelas soluções paleativas como piscinões e pelo fomento ao automóvel. Da Bratkelândia que abriu a cidade para a especulação imobiliária sem precedentes.

PT é o partido do urbanista Nabil Bonduki, do primeiro plano diretor da cidade dos anos 2000, que depois foi abandonado pela administração Serra/Kassab com apoio dos progressistas de Maluf. Das alianças com os movimentos de moradia do centro.

Saúde e educação
PP o partido que tirou o sistema de saúde da maior cidade da América do Sul  do SUS por meio de uma privatização esdrúxula nos anos 90. Dos baixos salários dos médicos. Do estado mínimo.


PT o partido ligado aos sindicatos que lutam contra a privatização do sistema de saúde e de educação. PT o partido que criou os CEUs e os telecentros gratuitos. Que fortaleceu o ENEM.

Gostaria muito de saber, Edinho, os detalhes dos 'pontos de aproximação'.

Identificar os problemas de São Paulo não basta. Até as baratas paulistanas reclamam das enchentes, até os ratos chiam da falta de educação pública de qualidade e mesmo o PCC luta contra o sucateamento da saúde para garantir bem estar de seus soldados.

Então, com visões históricas tão diferentes, quem cedeu para tal aproximação? O PT de Bonduki e dos sindicatos ou o PP das empreiteiras e do especuladores imobiliários, da educação e da saúde?

Fosse eu o editor mandaria o repórter ligar pro Edinho e detalhar este ponto. Já que não estou nesta posição, pergunto aos internautas e ao próprio presidente do PT paulista. O que esta 'coligação' vai apresentar para o eleitor paulistanos nos 1 minutos e meio de tempo a mais na televisão?

 


domingo, 17 de junho de 2012

De volta por uma São Paulo mais à esquerda

Constrangido que possa estar de ver convites a Paulo Maluf, este ícone do atraso paulistano, reabro meu blog para acompanhar a campanha à prefeito de São Paulo, cidade que acolheu meus antepassados escapando da Europa fascista, as pessoas mais queridas que conheço - que vieram de fora, lá dos planaltos no centro do país, do bravo nordeste, do além-mar - e que precisa de mudança.

Esta mudança, na minha opinião, se dará com a derrota do projeto atual para a cidade e com a vitória da chapa PT-PSB Haddad/Erundina.

Antes da entrada da socialista - aliás detentora eterna de meu voto -, já tinha me decidido pelo apoio à candidatura petista.

Política, como disse hoje Erundina em uma entrevista capciosa ao O Estado de SP, 'é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só'.

Portanto, neste espaço nobre que a pós-modernidade me oferece, escreverei e tentarei analisar os movimentos políticos com três intenções: contribuir para o debate na rede, ajudar colocar os pingos nos is para podermos melhor cobrar de nossos candidatos e mostrar porque devemos colocar Haddad e Erunidna no Palácio Francisco Matarazzo.

As políticas atávicas e anacrônicas da era Serra/Kassab já fizeram seu estrago e precisam agora ser paradas e compensadas com inteligência, inovação e um pouco mais de visão à esquerda.

Temos uma cidade absolutamente abandonada ao poder econômico. Travada pela visão antiquada das elites paulistanas ancasteladas em seus bairros nobres. Frustrada na capacidade de inovação que vem das periferias e cruel com a exaltação do mito egoísta do self-made man.

Pode ser diferente?

Pode e as iniciativas isoladas mostram que pode. Erundina mostrou que pode, Marta Suplicy também.

Haddad foi bem avaliado no Ministério da Educação. Jovem, comprometido com ideais que compartilho e membro de um governo que ajudou a transformar este país.

Erundina, na minha opinião, dispensaria palavras. Sabe fazer política com o sabre na mão, mas que usa preferencialmente o ramo de oliveira. Mulher, nordestina, corajosa, nunca abandonou seus ideais e nestes anos todos na Câmara dos Deputados, escolhendo as causas justas e importantes para o país.

Maluf nesta campanha é constrangedor, mas em um sistema onde minutos de televisão valem mais que o peso do ouro, entendo o movimento das cúpulas dos partidos.

Será um custo a pagar, mas pela sua idade, pela debilidade do velho jeito de fazer política, não acredito que terá muita influência num eventual governo. Cabe a nós, após a vitória, fiscalizar e cobrar coerência no programa e evitar que Maluf e seus aliados tenham poder de manter nas subprefeituras o seu passatempo favorito: o balcão de negócios.

No entanto, terá, acredito, um papel relevante para angariar as hordas de vereadores mal-acostumados com o ganha-perde dos balcões municipais que ainda acreditam ver em Maluf a força da politicagem.

Enfim, reinicio aqui meu blog. Espero contribuir para que São Paulo fique um pouco mais à esquerda e comece a reassumir seu verdadeiro papel no mundo e no cenário nacional.

Alexandre Spatuzza