sábado, 17 de novembro de 2012

Abraçadas ao mensalão, as oposições recusam inovar

Ao escolher o moralismo, na forma do 'mensalão', para atacar o governo, as oposições empurram com a barriga uma necessária revisão programática. Além disso, ao encurralar o PT na trincheira, inviabilizam a reforma política no curto prazo.

Ficou bem claro que nestas eleições municipais, principalmente nos grandes centros urbanos com mais de 500 mil habitantes, o PSDB e o DEM escolheram como estratégia eleitoral o debate dos valores, certos de que a população estaria revoltada com o PT dos mensaleiros sendo julgados no STF em uma ação milimetricamente cronometrada para coincidir com os dois turnos do pleito municipal.

Em nenhum lugar isso foi mais óbvio do que em São Paulo.

Em um atropelo dos diretórios distritais e das diferentes tendências e lideranças paulistas  - riquíssima pois, afinal, os tucanos nasceram em SP - o candidato presidencial derrotado em 2006 e 2010, José Serra, foi escolhido.

Isto não só sinalizou a continuidade da administração mal-avaliada de Kassab, mas também abandonou qualquer esperança de renovação do seu partido. Renovação, não só de lideranças, mas também programática.

Serra simboliza, como escrevi várias vezes, o velho. Ele personifica a política do Estado Mínimo, das parcerias duvidosas com as ONSs, do apoio da velha mídia e da reprodução da aliança centro-direita com uma constelação de partidos mais ou menos conservadores.

No campo de propostas para a cidade, não houve nada de novo. A visão de mundo da equipe montada por Serra - e a rejeição de uma outra possível equipe com quadros mais progressistas - não poderia oferecer ao paulistano qualquer coisa de novo. Kassab, é claro, apoiou seu mentor Serra, mas a busca foi pelo PP do Maluf, o DEM, o PPS (que até tentou vôo próprio) e outros pequenos partidos que restaram depois da colheita eficiente feita por Lula,

Mas, voltando à esfera nacional, ao eleger o mensalão como prioridade, a oposição mostrou aos eleitores que não tinha programa alternativo ao que estava aí. Entre escolher um candidtato que diz que faria o que está sendo feito com mais moralidade, e deixar quem está no poder continuar uma obra bem avaliada, a população vem escolhendo a segunda opção, mesmo porque os eleitores não veem os tucanos como um partido limpo de corrupção e de desmandos.

Em resposta, ao invés de debater programaticamente suas posições, o governo e o PT não deixam as pessoas esquecerem, e ensinam aos mais jovens, que, no governo, o PSDB e o DEM, privatizaram a preço de banana, geraram desemprego, submeteram o país a políticas comerciais dos EUA, enxugaram o Estado onde não devia e quebraram o país várias vezes.

Falar que sem a privatização não haveria centenas de milhões de celulares em circulação é mesma coisa que falar para uma criança que ela pode brincar na hora do recreio. O efeito é nulo.

A população está cobrando outra coisa. A conquista do direito à telecomunicação já está assimilado - e foi subsituído pelo debate sobre o acesso à internet de qualidade - e a nova geração de eleitores não está interessada no que foi o debate - ideológico e prático - sobre as privatizações, e, muito menos, no seu simulacro mais de uma década depois.

A população quer garantias da continuidade do que foi conquistado nos últimos anos e é isso que a oposição não oferece. A população quer ver o que os líderes pensam sobre o futuro do país, e é isso que os tucanos não querem mostrar.

Não que o PT e os partidos de situação sejam melhores, mas, repetindo, entre um governo bem avaliado e outro que oferece retórica, a escolha é óbvia.

O mais triste é que com as iminentes prisões do réus da AP 470, a oposição presta mais atenção à retórica comemorativa inconsequente da imprensa - com direito a  especulação se Dirceu pode ou não ser assassinado na prisão - do que ao recado que saiu das urnas.

Álvaro Dias, um dos baluartes do moralismo tucano, horas após o pleito deste ano, avaliou que há uma crise de representatividade dos partidos, todos os partidos. Mas, seu ato subsequente foi abandonar o PSDB, mostrando que os tucanos têm pouca noção do momento pelo qual a nação passa.

Queremos sim uma oposição responsável que ofereça alternativas de visões de país e de futuro. Necessitamos de uma oposição de esquerda e de direita ao centrismo pragmático do PT que há 10 anos está no poder.

Os desafios são imensos e as respostas não virão de posições antigas e mofadas de um neoliberalismo falido.

A melhor notícia da política que poderia ser veiculada hoje seria a decisão da cúpula tucana de organizar conferências regionais um congresso nacional de vários dias para avaliar as eleições e refundar o partido para enfrentar o próximo pleito daqui dois anos. Isto forçaria o PT a parar para pensar um pouco e baixar a guarda levantada com as condenações da AP 470, conforme a nota emitida esta semana.

Mas isto seria visto com lamber feridas. Além disso, os eternos donos do poder tucano se sentiriam ameaçados, pois suas caras posições ideológicas poderiam finalmente serem jogadas no lixo. E, afinal, nem todas novas lideranças tucanas  caberiam no Fasano nos jardins paulistanos.