BRICS/Economia

O Brasil assume a posição ativa na liderança do comércio Sul-Sul, especialmente com os países chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A estabilidade econômica, crescimento pujante de renda e melhora constante no ambiente de negócios são as bases de uma política comercial e diplomática de sucesso. 

Dilma Rousseff, presidente inaugurada no dia 1° de janeiro de 2011, reafirmou esta posição.

Acompanharei aqui, com comentários e notícias de terceiros, este crescente fenômeno que vai transformar o comércio internacional.

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22 de agosto de 2011

Eu ia postar este comentário na página deste blog sobre jornalismo e política, mas acho que cabe mais aqui, na economia, pois é um debate importante de impostos (de novo!) e ideologia do qual fui alertado por uma matéria no The Observer neste final de semana.

No Brasil, o debate pouco repercutiu, por razões óbvias, mas o registro do articulista do jornal britânico é que a direita está cada vez mais desiludida com a própria ideologia, pois estão vendo que (pasmem!) a autoregulamentação não funciona.

Julian Coman, do The Observer, mostra que políticos, líderes empresariais e jornalistas alinhados com o campo da direita conservadora começam não só a pedir mais controle dos governos, mas também percebem que deve-se começar a pensar num novo sistema de impostos que onere o sistema financeiro internacional e os mais ricos.

Na semana passada, eu escrevi neste espaço sobre como impostos poderiam ser usados para custear a transição para uma economia verde. Uma espécie de CPMF internacional. No Brasil, falar de impostos é uma dureza, pois temos um sistema arcáico e burocrático, além de ser regressivo, recaindo sobre o consumidor, os mais pobres e a classe média. A falácia de que não temos o retorno do que pagamos é sempre ventilada, mas sem comprovações, sem detalhes e usando um panfletismo barato. Citei um editorial do New York Times propondo não só a continuidade da Cide deles sobre combustíveis, mas também um aumento de alíquota.

No entanto, em âmbito internacional, quem está argumentando por um aumento de impostos dos mais ricos é nada menos que Warren Buffet, megainvestidor e gestor de fundos. Ao seu lado, questionando a inteligência da direita de liberar as empresas de amarras e de impostos, está Charles Moore, o editor do jornal megaconservador britânico The Daily Telegraph.

Moore está estarrecido com as ligações das empresas jornalísticas de Murdoch com a corrupção e o bullying econômico e político, tudo em nome do liberalismo econômico. Em um artigo sucinto, mas simbólico, ele afirma: estou começando a pensar que a esquerda está certa (em inglês, um trocadilho: I'm starting to think that the Left might actually be right).

Ele argumenta que a famigerada liberdade beneficia apenas os mega-ricos que tiram e poẽm dinheiro onde querem, pressionam para reduzir custos de mão de obra e fragilizam toda a sociedade.

Buffet, por sua vez, mostra o quão pouco ele paga de impostos. Ele declara que, por ter sua renda majoritariamente do mercado financeiro, pagou, em 2010, US$7 milhões de impostos, equivalente a 17% de seu rendimento. Enquanto isso, os assalariados, pagam acima de 30% em impostos, incluindo contribuições sociais sobre a o folha de salários (e nos Estados Unidos, não têm mesmo nenhum retorno dos impostos).

Além da candura da revelação, Buffet argumenta como impostos mais altos nunca bloquearam investimentos no mercado financeiro e nem a geração de empregos - como na década de 70 nos Estados Unidos. De fato, argumenta o megainvestidor, a alta de impostos americanos nas décadas de 70 e 80 geraram mais empregos do que alívio dado na década de 90.

Fica aí a revelação de um debate importante e o registro de que mesmo os liberais estão olhando de perto o fracasso de sua ideologia. Mas, para mim, o debate mais importante e premente no Brasil é sobre as taxas de juros e o custo absurdo que carregamos para o serviço da dívida pública. É necessário buscar um consenso para reduzir os juros abruptamente - sem ficar apenas na ladainha de cortar as despesas - para que as empresas busquem rentabilidade pelo investimento produtivo e de risco para podermos, aí sim, discutir uma reforma tributária e não apenas fiscal.

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18 de agosto de 2011

Possivelmente dentre os países do Brics, o Brasil é o mais ambivalente, com todo respeito aos nosso parceiros do Sul, temos uma cultura ocidental de negócios, forte tradição abertura, uma população ávida para consumir e uma recepção ímpar para estrangeiros.

Com estes méritos ganhamos o direito de sediar a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016 e estamos nos preparando para isso.

No entanto, apesar dos fatores positivos, ainda oferecemos muitos riscos e, como acompanhamos na imprensa local e internacional, parecemos atrasados com nossa burocracia, uma cultura política voltada para o próprio umbigo e um setor privado quase autista.

Durante uma conversa com um proeminente advogado que atua na área de contratos para o setor de infraestrutura, discutimos bastante estes entraves e uma das conclusões que chegamos é que existe uma cultura da falta de planejamento que acaba desaguando nos contratos que, pela complexidade das obras, dos sistemas de licenciamento, da dinâmica do mercado e da burocracia dos governos, acabam sendo aditividados, mudados e, frenquentemente, terminam em litígio.

A falta de planejamento se dá tanto do lado das empresas quanto dos governos. O problema, como explicou o advogado, não é falta de pessoal qualificado e nem do reconhecimento dos riscos, mas sim a ausência de uma forma objetiva de tratar, de minimizar e de compartilhar os riscos.

O jurista lembrou de uma palestra que deu recentemente numa grande empresa elétrica durante a qual perguntou se os presentes avaliam os riscos na elaboração de um projeto. Todos responderam que sim. Depois ele perguntou quantos elaboram um 'Plano B', aí se deu silêncio total.

Taí o problema: sabemos fazer os cálculos, construir barragens, levantar estádios, abrir estradas. Sabemos também os fatores - e principalmente as exigências legais - que podem impactar estas coisas, mas não nos prevenimos adequadamente.

A solução é teoricamente fácil, apesar de trabalhosa. Em primeiro lugar é se faz necessário montar um contrato prevendo todos os acontecimentos possíveis, levando em conta as vertentes principais de uma obra grande: a financeira, a jurídica e a técnica. São todos fatores importantes, pois um projeto grande tem centenas de fornecedores a mercê do mercado, depende de um fluxo financeiro e de conhecimento técnico.

Para usar uma analogia, deveria-se proceder como um programador: se acontecer isso, tais medidas devem ser tomadas, e se acontecer aquilo...

A segunda coisa é montar um sistema detalhado de acompanhamento da obra que envolva o jurídico e o técnico. Um não pode funcionar sem o outro. O ponto inicial é um 'logbook' diário da obra para poder comprovar e traçar passo a passo os acontecimentos na hora da tomada de decisão.

Parece simples, mas não é. Nossa cultura de falta planejamento não nos permite fazer isso, nem do lado do contratante e nem do contratado. No final, os litígios recaem, com frequência, na cláusula de equilíbrio econômico-financeiro da lei de licitações. Já há uma fila enorme nos tribunais de empreiteiras cobrando este equilíbrio de serviços prestadas para os governos, segundo o advogado.

E para finalizar, uma nova visão, pelo menos para o Brasil: contratos de aliança. Parece ser uma boa forma de dividir os riscos. Não só se planeja em conjunto - pois frequentemente o planejamento incompleto da obra é o Calcanhar de Aquiles - mas também se resolve junto os problemas. O ponto de partida é identificar a competência de cada parte no contrato e determinar mecanismos para resolver entraves e problemas por meios de comitês hierárquicos compostos de especialistas dos dois lados. Enfim, uma efetiva aliança onde cada um sabe o seu papel e o papel do outro.

Contratos de aliança já são comum no exterior, mas podem ser aplicados no Brasil? Sim, a lei não impede. No entanto, é preciso entender se são aplicáveis para contratos de concessão e com o setor público. Com as estatais, como Petrobras e Eletrobras uma simples mudança de estatuto baste, afirmou o advogado.

Mas a grande questão é se nossa cultura empresarial, burocrática e política vai permitir que um gerenciamento dos contratos evite a transmissão de culpa e responsabilidades sempre para outro.

No final, vamos continuar a cortar as árvores sem afiar o machado ou nosso boleiros terão que aprender a driblar tratores no campo (literalmente) em 2014?  

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22 de junho de 2011

A Eurozona e o FMI conseguiram! Tiraram um país do mapa. Varreram para debaixo do tapete os restos. A Grécia tomou o primeiro passo para o total desfalecimento.

Ontem, o primeiro ministro grego, George Papandreou, do Movimento Socialista Panelêncio, ganhou o voto de confiãnça (veja aqui em inglês). Ganhou é mero formalismo, pois conseguiu 155 votos contra 143, com duas abstenções (o que me lembra vitória apertada de Alckmin por menos de 1% dos votos nas últimas eleições para o governo paulista alardedada com vitória). Ou seja, quase metade está contra o governo.

Pois bem, a mídia internacional, o FMI, os ministros da fazenda europeus e os bancos credores chamam isso de confiança para poder apertar ainda mais o torniquete neste domingo quando deve ser votado um pacote de 25 bilhões de euros em cortes de despesas, aumento de impostos e vendas de ativos do governo.

Enquanto isso, o país continua em estagnação. O pacote anterior só piorou a situação, e todos sabem. Os efeitos destas medidas reduzirão ainda mais os salários e aposentadorias, gerarão mais desemprego e tirarão ainda mais dinheiro do bolso das famílias. Para que? Para receber um empréstimo de 12 bilhões de euros para... pagar a dívida aos credores principalmente para bancos franceses e alemães.

Pagar um dívida impagável de uma vez e meia o PIB da Grécia inteira.

Anacronismo maior nunca se viu. Depois de tudo que o mundo viveu nos últimos anos, lá vem os donos dos cofres com as mesmas receitas: retirar dinheiro da economia para garantir pagamento dos bancos. O povo, que não tem nada a ver com as decisões erradas, vai pagar o pato.

A coragem que falta os políticos gregos, não falta aos milhares de cidadãos que estão na rua protestando e tentando garantir um futuro há semanas.

Como disse um jovem manifestante de 22 anos para a BBC: "Deveríamos entrar em concordata de uma vez, pois estas medidas estão nos matando lentamente. Vamos botar pessoas competentes no poder".

Já um outro, aludindo ao passado remoto do país, disse ao jornal The Guardian: Neste país levamos a democracia a sério. Vamos manifestar até o fim porque não fomos nós que deixamos a divida amontoar a este ponto.

Não é só o gregos nas ruas que não têm confiança no novo gabinete de Papandreou: uma pesquisa de opinião mostrou que 9 em cada 10 alemães acreditam que a Grécia não evitará aconcordata e isolvência, mesmo com o novo pacote.

Um país sem capacidade de gerir sua economia, como estará a Grécia se aprovado o pacote, não conseguirá sair de crise alguma. Não é absolutamente a hora de cortar 'na carne' como dizem os economistas liberais. É hora de confiar no povo e botar ele para gerar a riqueza. Mas para isso, o governo precisa criar os programas para gerar os empregos, num gasto anticíclico.

Mas não é isto que estamos vendo. O que vemos é o derretimento de um país no quintal das nações mais poderosas e prósperas do mundo. Sinto muita vergonha de tanta mesquinharia.



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3 de janeiro de 2011

Cito trecho do discurso da Presidente Dilma Rousseff:

"Continuaremos fortalecendo nossas reservas externas para garantir o equilíbrio das contas externas e bloquear e impedir a vulnerabilidade externa. Atuaremos decididamente nos fóruns multilaterais na defesa de políticas econômicas saudáveis e equilibradas, protegendo o país da concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos.


Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção."

Assista a íntegra do discurso:


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