domingo, 6 de setembro de 2015

Sobre Felicianos, Datenas, Russomanos e o fracasso das oposições


Feliciano é um político sectário - não porque é evangélico - de um partido nanico cristão. Datena é um ex-locutor de futebol, apresentador do pior programa policialesco brasileiro e que, portanto, surfa na onda da histeria anti-política que assola este país. Russomano, o quase prefeito das últimas eleições, quer mostrar que consertou o telhado de vidro que o catapultou do segundo turno do último pleito para alcaide.

Sozinhos, estes personagens não teriam importância, mas juntos, são os candidatos 'anti-haddad' sonhados pela oposição ao governo petista paulistano. Do mesmo lado oposicionista, tempos a ex-petista Marta Suplicy e o ex-Sabesp Andrea Matarazzo (que tem a unção de FHC, candidato derrotado à prefeitura da maior cidade do país).

Ajudando este estamento oposicionista, a mídia procura pelo em ovo para desabonar o governo do petista Fernando Haddad e manter seus índices de aprovação baixíssimos, como é de praxe para qualquer prefeito progressista da cidade.

Mas, ao traduzir este possível embate eleitoral para o plano nacional, é possível ver o fracasso das oposições contra o cambaleante governo federal petista: em mais de uma década, as oposições não conseguiram trazer novos nomes e tampouco conseguiram construir uma nova agenda para o país.

É constragedor, já que a única novidade na política oposicionista são os grupelhos de direita e ultraliberais com teses anacrônicas e desencontradas sobre o papel do Estado, sobre liberdade de expressão baseadas em suas análises históricas distorcidas.

Em tempos de 'impeachômetro', criado por um blog 'progressita' que mede a subida e descida do apoio político e popular à tese da destituição da presidente Dilma, este é um fato desalentador para o futuro do país.

O PT com Dilma - e até com Lula - não consegue mais se apoiar no capital político de crescimento econômico, distribuição de renda, reafirmação de direitos, política internacional soberana entre outras mudanças profundas que ajudaram a promover na sociedade brasileira.

Dizem alguns observadores que ciclo do Lulo-petismo acabou e um novo ciclo político-econômico precisa surgir.  De fato, um novo ciclo precisa ser criado, mas mais pelo fracasso do nosso sistema político do que pelo suposto fracasso do chamado Lulo-petismo.

Mas, afundadas em acusações sem fim sobre o financiamento de campanha, as lideranças do PT mal conseguem convencer seus próprios eleitores que têm alguma visão de futuro para a nação.

Na mesma semana da criação da Frente Brasil Popular, um movimento de esquerda - formado por sindicatos e movimentos sociais, entre eles os poderosos MST e MSTS - a procuradoria geral da república, liderada pelo reconduzido Janot, abre investigação sobre os próceres da república para saber se o dinheiro das campanhas presidenciais petistas de 2006 a 2014 (só as campanhas petisras) teve origem no esquema de propinas montado na Petrobras.

A tese principal é que as doações legais tinham como base a aprovação pela diretoria da estatal de crimes como superfaturamento e formação de cartel na contratação de grande obras. Assim, a doação para o partido político no poder era fruto de achaques baseados no trâfego de influência política dos diretores apadrinhados.

No fundo, esta acusação é o início do melancólico final de todo um esquema político-econômico de controle do poder pelo sistema capitalista nacional.

Não há mais saída: em tempos de redes sociais e crescente digitalização da sociedade, o jeito de fazer política terá que mudar.

Certos que serão os herdeiros do poder após a derrota do PT - tanto nas eleições em 2018 ou em um eventual impedimento da chapa da presidente Dilma - as oposições esperam nos corredores chutando e guspindo no que acham ser o cachorro morto das esquerdas, lideradas pelo PT.

Mas, apesar do gritos de injustiça dos acusados (que apontam o dedo para a peserguição), a fúria policialesca-jurídica-moralista-midiática que agora se torna contra o partido no poder com certeza se tornará contra a oposição de esquerda, de centro ou de direita que assuma o poder, porque estamos falando da criminalização da política.

Nos mais de 5 mil municípios e nos 27 estados país afora, sempre se encontrarão correlações estatísticas entre as doações de campanha e contratos dos doadores com o setor público. A partir daí, as ligações pessoais por meio de reuniões, telefonemas, e-mails e até viagens entre lideranças políticas e empresariais se encaixarão como uma luva na tese de lavagem de dinheiro de contratos expúrios e não transparentes.

E não só no Brasil. Nos Estados Unidos - onde a atividade de Lobby é legalmente reconhecida - , na União Européia ou no Japão a correlação entre o dinheiro e contratos com grandes grupos são comuns. E, de fato, foram muitas das origens dos grandes escândalos políticos na história do século XX e  XXI.

Mas, ficar apenas nas constatação de que a política moderna nas grandes democrácias é movida a dinheiro, não nos ajuda dar um pequeno passo sequer em direção à construção de um novo futuro.

Cá entre nós, quem realmente se surpreende - a não ser os moralistas e totalitários de plantão - que empresas e grupos econômicos olham doações de campanha como investimentos? No tucanistão de São Paulo ou na república Lulo-petista, a história se repete.

E aí, quando as oposições deveriam aproveitar o enfraquecimento político do governo e o seu próprio ostracismo do poder central no país para debater, procurar e formar novas teses e lideranças, tudo é jogado no ar na esperança de que a maioria da população vai acreditar que eles serão a redenção.

O sinal mais forte disso é o rol de pré-candidatos que se apresentam para a prefeitura de São Paulo. Feliciano, alçado à notoriedade pelo seu arraigado preconceito contra todos os não cristãos; Datena com seu tom histriônico anacronicamente pedindo para a polícia - que ele não controlará se eleito - para sumariamente assassinar supostos bandidos; e o bom moço do liberalismo do Morumbi, Russomano, vociferando contra as pequenas empresas - e esquecendo as grandes doadoras para suas campanhas - olha para cidadãos apenas como consumidores.

Um atavismo político inacreditável.

À espreita deste não debate político, uma direita totalitária pronta para destruir o Estado, atacar minorias e todos os direitos sociais conquistados pelos brasileiros nas últimas décadas.

As bandeiras vermelhas, alçadas contra o ajuste fiscal do governo que elegeram e contra o eterno imperlialismo ianqui que quer destruir a Petrobras, também têm sua dose de anacronismo histórico, mas estes estão mais perto de um caminho futuro para o Brasil.

Firme entre as propostas da Frente Brasil Popular está a ideia de uma assembleia para fazer uma profunda reforma política. Uma assembleia popular aliada a um debate nacional intenso sobre o tema.

No fulcro desta proposta está a reeducação política da nação e, principalmente, dos nossos jovens.

Desde a redemocratização, nossos jovens foram deseducados políticamente - de um lado pelo desmandos dos políticos e empresários e do outro pela constante campanha da mídia.  Mas, principalmente, pela falta de coragem dos democratas de garantir a investigação e punição dos crimes cometidos durante a ditadura e a construção de um sistema democrático de comunicação.

Acreditavam que a conciliação, sem confrontos, resolveria tudo. Acreditavam em Papai Noel.

Muitos destes jovens hoje são adultos e pais de famílias e outros agora entram na vida política nacional, com direito a votar com 16 anos. E eles ignoram os desmandos do passado.

O debate sobre o que é política e como se faz política é de extrema urgência. Precisamos que nossa política ressurja como um Fênix das cinzas da velha política.

A população Brasileira precisa, de fato, aprender o que é representação, pacto federativo, estado de bem estar social, Estado de direito e proteção de minorias. Precisam conhecer a fundo a nossa história não tão republicana para entender que o que existe de liberdade e direitos hoje é fruto de sacrifício de muitos que lutaram e acreditaram num futuro.

Os nossos jovens precisam entender os sistemas de pesos e contrapesos do sistema tripartide de poder para daí começar a debater os novos sistemas de representação e participação política, utilizando mecanismos digitais aos quais estão acostumados.

Não podemos deixar que ideias antigas e conceitos anacrônicos moldem a nova política que temos que construir. Temos que canalisar a inovação social acumulada na sociedade para podermos transformar a terra arrasada na política.

Felicianos, Datenas e Russomanos sempre vão aparecer, e podem sempre ser eleitos, mas só com uma reforma política abrangente, popular e inovadora que eles não serão usados pelas fracassadas oposições e pela destruída situação como um Cavalo de Tróia para alçar mais um salvador da pátria ao poder.

Não somos nem almas a espera de uma slavação, nem anjos vingadores e nem consumidores frustrados, como querem Feliciano, Datena e Russomano.

Somo cidadãos.