quarta-feira, 20 de junho de 2012

A política 'minutófila'

O cálculo é feito em minutos neste estágio das campanhas eleitorais. Quanto mais exposição na TV, melhor. Acredito que os marqueteiros políticos tenham lá suas razões num mundo ultramediado pela televisão, mas há algo de perverso nesta equação já que considera os eleitores como postes que acreditam em belas imagens, discursos televisivos e soluções de gaveta.

E não existe um candidato que tenha coragem de quebrar esta lógica, mesmo que nas mesas de debates falem mal do sistema e a favor de uma reforma política. Estão todos rendidos e não vêem as alternativas que existem ao discurso hipodérmico da televisão.

Fechadas as alianças em torno da TV, tenho certeza que vão todos se embrenhar pelas redes sociais na Internet. Mas o diálogo não é o forte deles. Não só por que não sabem se comunicar com a população de maneira eficiente - com contratação de estagiários para ficar twitando e facebuqueando -, mas, principalmente, porque não têm conteúdo para oferecer já que não têm programa. Que programa haveria de existir entre PT e PP?

Personificada a eleição em torno de malufs, haddads, lulas, serras, alckmins e efeahagacês sobra pouco espaço para elaborar programas realmente inovadores.

Vão enunciar suas ideias, vão despejar carinho e atenção aos internautas, vão falar de segurança (sim, precisamos de mais segurança), saúde (o sistema público está falido), educação (dois professores por sala de aula), sustentabilidade (o meio ambiente é importante) e por aí vai. E vão existir os trolls dos dois lados fazendo o jogo sujo comandado pelas cúpulas enquanto Serra vai posar de John Wayne e falar que odeia o 'vale tudo'.

Espero que esteja errado, mas acho pouco provável não estar. O candidato que conseguir transpor esta lógica terá uma enorme oportunidade nas mãos.

Os veículos de comunicação estão desacreditados já que o esforço sobrehumano dos articulistas dos jornalões como Toledo, Noblat e outros de pintar de rosa e boas intenções a campanha do Serra e de podre a de Haddad (cujo nome evitam mencionar a todo custo) não convencem nem a mais inocente das baratas paulistanas.

Em tempo, comentário da imprensa hoje:





Forçada pela blogosfera e depois do estrago feito, a Folha hoje publica foto de Alckmin sorrindo de braços dados com Maluf em matéria falando que Maluf perdeu espaço em seu governo. Isto é cinismo, já que o fato da participação do Maluf no ninho tucano foi escondido até agora.





É uma brincadeira de mal gosto a coluna do José Toledo no Estadão de hoje tentando minimizar a importância dos minutos para Serra, como se os tucanos não tivessem tentado de tudo para embarcar Maluf e seus 1:35 na sua campanha.  













terça-feira, 19 de junho de 2012

Umas e outras - o estrago de Maluf e a saída de Erundina

Como dizem os sábios: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O PT pagar o preço pedido por Maluf é uma coisa e o PSDB não querer pagar o cobrado é outra coisa.

Mas, o fato é que a cobertura dos jornais paulistas e nacionais é enviesada para dar a impressão que pragmatismo político é só do PT, enquanto os direitistas, tucanos e outros políticos afins, não se sujam.

Balela. Eles estão sujos até os colarinhos que cobrem suas gravatas Hermès. Até ontem, Maluf ditava regras em algumas repartições do Palácio dos Bandeirantes e foi duramente assediado pelo Serra, que não conseguiu, imagino eu, sobrepor as trincheiras da arrogância e ambição alckmistas que visam sucesso em 2014.

Mas os jornalões omitiram este fato e deram a impressão de que Maluf foi criação do PT e que só o PT se rebaixaria a fazer aliança com um procurado pela Interpol. Cardeais como são os tucanos, não sairiam, segundo a omissão dos articulistas políticos dos jornais, de sua altivez moral para tentar algo sequer parecido. A outra sujeira dos editorialistas paulistas é deixar a impressão de que Maluf pessoalmente assumiria algum cargo no governo Dilma...

Mas, São Paulo, por mais poderoso que seja, não é páreo para um cargo no governo federal. Isto é uma coisa (mal contada pela grande imprensa e melhor contada na blogosfera por Altamiro Borges e pelo Zé Dirceu).

E deu na outra coisa, que é exatamente o preço político desta aliança 'minutófila': a saída - por enquanto, pois em política nada é para sempre - da Erundina da campanha do Haddad.

Os estrategistas talvez estejam fazendo as contas e neste momento consideram mais importante contar segundos do que ter a coerência programática.

De uma certa maneira, o resultado foi o que os jornalões queriam ao tentar esconder do público os verdadeiros protagonistas desta pantomima sem graça. No entanto, ao meu ver, perde a candidatura de Haddad com esta brincadeira. Maluf agrega minutos - e, mais importantemente, os tira dos tucanos -, mas não traz votos.

Todas as baratas paulistanas sabem que quem vota Maluf não vota PT e quem vota PT não gosta nem de ver a sombra de Maluf. E duvido muito que os cinco pontos ganhos por Haddad tem a ver com Maluf. Mas quando se vê imagens iconoclásticas como as que vimos estampadas em toda a imprensa hoje, a rejeição é enorme e nem Erundina conseguiu segurar a barra.

Estaria tudo bem se a verdade fosse como querem os articuladores petistas que 'recebeu apoio' do Maluf, como, aliás já aconteceu antes. Mas não foi isso que deve ter ocorrido.

A negociação foi dura e, temo eu, programática. Se não fosse, Erundinda, tão clara na suas entrevistas no final de semana, não teria abdicado sua posição na chapa de Haddad. E Zé Dirceu, talvez um dos mais astutos analistas políticos deste país deu o recado bem dado no seu blog: a decisão é para a cúpula, e não se metam.

Escreveu o ex-presidente do PT:  "Petistas e aliados, por favor, sem esquecer que o foro mais adequado para debater e buscar a solução dessa questão é a coordenação e a direção política da aliança e da campanha do Fernando Haddad. Deflagrar um debate em torno disso em público e pela mídia é dar chumbo ao adversário".

É claro que há a necessidade de tomadas de decisões pelas cúpulas, mas a questão programática é a única que trará alguma qualidade à política é a última que cobram os jornalistas. É preciso discutir programas, pois eles contêm alguma solução de deixam claro o que é um campo e o que outro, antes que marqueteiros misturem as coisas.

Piada pronta: aproximação programática entre PP e PT

"são as ações de combates às enchentes, às crises da saúde e da educação"

Parece uma piada pronta para tirar proveito da falta de memória do paulistano, ou uma reportagem mal feita. Segundo o Estadão, o presidente do PT paulista, Edinho Silva, existe uma visão comum entre o PP e PT que favoreceu a aliança que trouxe Maluf para os braços do governo federal com o controle de uma das secretarias federais mais ricas da união, a de saneamento.

Eu, que sou da laia que tenta entender a política além da movimentação puramente partidária na disputa por tempo em TV, sempre busco alguma informação que indica uma visão mais programática. Mas nesse caso é difícil de engolir.

Como que o PT e o PP podem ter visões confluentes nos assuntos mencionados?

Enchentes
PP, em especial Maluf, é o idealizador do asfaltamento da cidade, do minhocão, das avenidas cobrindo várzeas dos rios, pelas soluções paleativas como piscinões e pelo fomento ao automóvel. Da Bratkelândia que abriu a cidade para a especulação imobiliária sem precedentes.

PT é o partido do urbanista Nabil Bonduki, do primeiro plano diretor da cidade dos anos 2000, que depois foi abandonado pela administração Serra/Kassab com apoio dos progressistas de Maluf. Das alianças com os movimentos de moradia do centro.

Saúde e educação
PP o partido que tirou o sistema de saúde da maior cidade da América do Sul  do SUS por meio de uma privatização esdrúxula nos anos 90. Dos baixos salários dos médicos. Do estado mínimo.


PT o partido ligado aos sindicatos que lutam contra a privatização do sistema de saúde e de educação. PT o partido que criou os CEUs e os telecentros gratuitos. Que fortaleceu o ENEM.

Gostaria muito de saber, Edinho, os detalhes dos 'pontos de aproximação'.

Identificar os problemas de São Paulo não basta. Até as baratas paulistanas reclamam das enchentes, até os ratos chiam da falta de educação pública de qualidade e mesmo o PCC luta contra o sucateamento da saúde para garantir bem estar de seus soldados.

Então, com visões históricas tão diferentes, quem cedeu para tal aproximação? O PT de Bonduki e dos sindicatos ou o PP das empreiteiras e do especuladores imobiliários, da educação e da saúde?

Fosse eu o editor mandaria o repórter ligar pro Edinho e detalhar este ponto. Já que não estou nesta posição, pergunto aos internautas e ao próprio presidente do PT paulista. O que esta 'coligação' vai apresentar para o eleitor paulistanos nos 1 minutos e meio de tempo a mais na televisão?

 


domingo, 17 de junho de 2012

De volta por uma São Paulo mais à esquerda

Constrangido que possa estar de ver convites a Paulo Maluf, este ícone do atraso paulistano, reabro meu blog para acompanhar a campanha à prefeito de São Paulo, cidade que acolheu meus antepassados escapando da Europa fascista, as pessoas mais queridas que conheço - que vieram de fora, lá dos planaltos no centro do país, do bravo nordeste, do além-mar - e que precisa de mudança.

Esta mudança, na minha opinião, se dará com a derrota do projeto atual para a cidade e com a vitória da chapa PT-PSB Haddad/Erundina.

Antes da entrada da socialista - aliás detentora eterna de meu voto -, já tinha me decidido pelo apoio à candidatura petista.

Política, como disse hoje Erundina em uma entrevista capciosa ao O Estado de SP, 'é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só'.

Portanto, neste espaço nobre que a pós-modernidade me oferece, escreverei e tentarei analisar os movimentos políticos com três intenções: contribuir para o debate na rede, ajudar colocar os pingos nos is para podermos melhor cobrar de nossos candidatos e mostrar porque devemos colocar Haddad e Erunidna no Palácio Francisco Matarazzo.

As políticas atávicas e anacrônicas da era Serra/Kassab já fizeram seu estrago e precisam agora ser paradas e compensadas com inteligência, inovação e um pouco mais de visão à esquerda.

Temos uma cidade absolutamente abandonada ao poder econômico. Travada pela visão antiquada das elites paulistanas ancasteladas em seus bairros nobres. Frustrada na capacidade de inovação que vem das periferias e cruel com a exaltação do mito egoísta do self-made man.

Pode ser diferente?

Pode e as iniciativas isoladas mostram que pode. Erundina mostrou que pode, Marta Suplicy também.

Haddad foi bem avaliado no Ministério da Educação. Jovem, comprometido com ideais que compartilho e membro de um governo que ajudou a transformar este país.

Erundina, na minha opinião, dispensaria palavras. Sabe fazer política com o sabre na mão, mas que usa preferencialmente o ramo de oliveira. Mulher, nordestina, corajosa, nunca abandonou seus ideais e nestes anos todos na Câmara dos Deputados, escolhendo as causas justas e importantes para o país.

Maluf nesta campanha é constrangedor, mas em um sistema onde minutos de televisão valem mais que o peso do ouro, entendo o movimento das cúpulas dos partidos.

Será um custo a pagar, mas pela sua idade, pela debilidade do velho jeito de fazer política, não acredito que terá muita influência num eventual governo. Cabe a nós, após a vitória, fiscalizar e cobrar coerência no programa e evitar que Maluf e seus aliados tenham poder de manter nas subprefeituras o seu passatempo favorito: o balcão de negócios.

No entanto, terá, acredito, um papel relevante para angariar as hordas de vereadores mal-acostumados com o ganha-perde dos balcões municipais que ainda acreditam ver em Maluf a força da politicagem.

Enfim, reinicio aqui meu blog. Espero contribuir para que São Paulo fique um pouco mais à esquerda e comece a reassumir seu verdadeiro papel no mundo e no cenário nacional.

Alexandre Spatuzza