terça-feira, 18 de agosto de 2015

Manifestantes da direita não ouviram o recado dos que ficaram em casa

Ficou no tamanho certo, a manifestação da direita do dia 16. Esta foi, em resumo, a minha resposta aos meus filhos que, curiosos, queriam saber o que eu tinha achado das manifestações.

Pelo que li, talvez umas 200 mil pessoas no país inteiro foram às ruas pedir alguma coisa como o fim do PT, impeachment e/ou prisão da presidente, 'fora' Lula (não sei de onde), fim das esquerdas, volta de um regime militar e outras atrocidades contra a língua portuguesa - a mais fina Flor do Lácio -  e contra a nossa história, que não ouso reproduzir.

Para meus filhos - um, que está no início da adolescência e outro, no final da infância - é tudo muito curioso, pois no ambiente em que vivem na escola ou entre amigos não há dissidência: é um blá-blá-blá contra a Dilma e PT e políticos e tudo que está aí.

Um deles frequenta uma escola particular na Zona Norte de São Paulo. O outro, está em uma escola técnica pública do ensino médio. Ambas boas escolas, mas que refletem uma predominância de opiniões apolíticas que circulam na mídia e nas redes sociais, com críticas rasas ao que está acontecendo.

Por isso, eles ficam fascinados quando eu me recuso a xingar os manifestantes ou governos com os quais não concordo, preferindo analisar a situação do ponto de vista histórico, social e político.

O que intrigou meus filhos foi o fato de muitos nas ruas pedirem intervenção militar. No dia a dia deles não há como entender o que é isso a não ser quando eu ou parte da família deles explicam o que é uma intervenção militar e os resultados da última que o país sofreu em 1964.

No entanto, eles têm consciência que estão vivendo dias históricos, mas acharam curioso pedir intervenção militar em país que vive a mais plena democracia.

Mas, como disse, a 'grande manifestação' ficou de bom tamanho, ou seja, tamanho suficiente para ver a alienação histórica e social de uma minoria histriônica. Não vou brigar com números, pois eles já não são importantes e nem quero aqui fazer análises conclusivas. Quero apenas publicar impressões pessoais.

Portanto, o que, na verdade, importa é o recado de grupos que não conseguem mais mobilizar além de um teto dezenas de milhares de pessoas pois seu radicalismo vazio de propostas não atrai a maioria.

Se de um lado falta à presidenta Dilma a estatura de líder político capaz de representar os sonhos de uma nação e pôr um ponto final nesta brincadeira, do outro - o dos organizadores da manifestação - também não há líderes que explicam qual é a visão deles para o futuro da nação.

O fim da corrupção perpetrada por alguns, tão repudiada por eles, é um sonho, mas eles não explicam como vão fazer isso.
 
Os animadores nos carros de som neste final de semana ficaram apenas repetindo o que disse o ex-candidato do PSDB, Aécio Neves, em plena campanha eleitoral no ano passado, que bastava tirar o PT do poder para tudo melhorar.

Uma indignação mais do que seletiva.

Esta 'solução' não convence uma maioria que, apesar de estar desiludida com o governo, tem experiência de 30 anos de democracia e que, a cada dois anos, se acostumou participar de um debate - mesmo que mínimo - sobre propostas para o futuro da cidade e do país.

Pessoas que já elegeram um governante e depois outro que estava na oposição e sabem que terão a chance de eleger mais outro ano que vem e daqui a quatro anos.

A mensagem dos que não foram à rua foi mais forte do que o recado do raquítico grupo de radicais: sem propostas para o país, não há apoio.

Talvez uma luz sobre o que está acontecendo vem de uma pesquisa recente mostrando que 71% acreditam que a oposição quer o impeachment puramente por interesses próprios.

Mas, para muitos, a troca da mandatária não seria seis por meia dúzia, seria sim trocar o certo pelo incerto e aprofundar de vez a crise política que já está esgotando a paciência da população que começa também a enfrentar uma crise econômica.

E todos sabem: sem o fim da crise política, a crise econômica se alonga e se aprofunda, pois sabem que só um mínimo de governabilidade dará a chance para o país sair desta.

É claro que houve uma mudança de posição entre os líderes empresariais e da mídia contra esta crescente desestabilização econômica para criar este clima, mas é apenas o outro lado da mesma moeda.

Os 'Aloprados' On-line, o MBL, os #vemprarua e outros grupelhos não entendem o recado dos que ficaram em casa: lhes sobra arrogância e lhes falta densidade política para compreender que não têm credibilidade política para mover massas além do seu próprio deslumbre pela notoriedade que conquistaram nas redes como Facebook e WhatsApp.

Nas ruas e na política real, o jogo é outro. No asfalto, o povo não é bobo.

E por isso mesmo que nada está ganho para o governo.

O movimento preocupante a favor do impeachment, aquele que goza de apoio dentro do próprio estamento politico e jurídico, ainda está vivo, apesar de não estar legitimado pelas ruas.

Há muito que fazer no campo político, mas, cada vez mais, os políticos percebem que precisam buscar o mínimo de governabilidade para que as conquistas sociais e políticas das últimas décadas - inclusive as deles de serem eleitos - não sejam jogadas fora e, com elas, qualquer possibilidade de continuar na vida política sem ameaças e sobressaltos.

O fascismo está, de fato, batendo às portas. Este é o outro recado destas manifestações: os radicais se mobilizam pelo silêncio dos outros.

Finalmente, acredito que a única conclusão contudente que podemos tirar do show de horrores que vimos neste final de semana é que direita está aí, forte, se alimentando da decepção das pessoas.

A semana começa, etretanto, com uma luz no final de túnel que há ainda um pouco de sanidade entre as lideranças políticas e empresariais de deste país que já perceberam que o povo não cai facilmente em ladainhas.

Trocando em miúdos, sem ter a legitimidade de uma eleição, o povo não aceitará troca na liderança do país. O brasileiro ainda tem muito a perder.

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