segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Brasil, terra arrasada: estão a roubar nosso futuro

São três os grupos que querem derrubar o governo petista de Dilma Rousseff:

Os ideológicos – que não concordam com a visão do papel do Estado dado pelo governo nos últimos 12 anos
Os raivosos – que descarregam na política a raiva, a frustração e o medo, culpando o governo federal por todos os seus fracassos como indivíduos
Os oportunistas – que querem aproveitar-se da situação para tomar o poder ou esconder seus malfeitos e até ganhar dinheiro

Todos eles são moralistas seletivos, antidemocráticos e, sobretudo, covardes, pouco se lixando para o futuro do país e nem pelo estado de direito, instituição garantidora final das liberdades individuais e coletivas construídas nos últimos 40 anos desde a democratização.

Querem anular o voto da maioria da população obtida em uma campanha dura, complexa, mas que se deu dentro das regras do jogo.

Mas o mais chocante é a falta de visão de futuro e a covardia destes grupos.

Falta visão para o país, pois não se preocupam um instante que este alucinado movimento para dar um golpe – sim, chame o que você quiser, e mesmo com a aparência do formalismo legal, é um golpe sujo e desonesto – não pensam duas vezes em jogar o futuro do país na lama.

Paralisado há mais de um ano, o Brasil é impedido de continuar a avançar e se consolidar como nação em desenvolvimento. Ninguém negocia uma saída, todos querem o quanto pior melhor.

Juntando-se, estes grupos não se importam com o futuro e aceitam qualquer coisa desde alianças espúrias com grupelhos elitistas, saudosos dos tempos de tortura e exceção das ditaduras militares, apoio a corruptos e outros contraventores que apontam o dedo para os outros para não apontarem para eles e ideológicos que querem a volta do Estado Mínimo e liberal, numa visão política anacrônica e atávica.

Covardes, estes grupos se aproveitam da impopularidade do governo e a fraqueza política da presidente Dilma Rousseff para não fazer o debate e nem expor para a população seus verdadeiros intentos.

Apoiados na grita contra a corrupção e na consequente criminalização da política, se escondem na falta de projeto político coerente e democrático. A falsa ideia de bagunça macroeconômica no governo – altas pontuais na inflação, rebaixamento, um deficit temporário nas contas, a falácia do isolamento do Brasil no mundo e a supervalorização dos efeitos nefastos da corrupção – esconde uma falta de proposta e o medo de expor o que realmente acreditam.

Todos sabem: com estabilidade política, o Brasil retomaria o seu rumo ao crescimento em pouco tempo, com distribuição de renda, já que fundamentos macroeconômicos o permitiriam. E o resultado das urnas, ainda seria imprevisível, dando uma chance para a oposição de assumir um país legitimamente em 2019 e mudar as políticas com o aval do voto. Sem estabilidade política, ninguém investe e o Brasil fica a deriva, arriscando perder até estes fundamentos.

Poderiam ter escolhido o embate democrático de conquistas de mentes nas ruas e votos no parlamento nos quatro anos que tem até as próximas eleições, mas não: escolheram a destruição da nação por meio de alianças espúrias baseadas em conchavos e manobras corporativistas, apoiando apenas interesses específicos, sem se preocupar com qualquer visão de nação.

Mesquinhos, não revelam que o resultado deste movimento será ainda mais instabilidade política, perda de legitimidade institucional e continuação da piora da economia e, consequentemente, da vida da população. E pior: sem saber quem assumiria o poder, o embate dos oportunistas de plantão se esquentaria, levando o país à beira do abismo autoritário. Quem assumirá o poder imediatamente após o golpe? O vice-presidente, o presidente da Câmara dos Deputados? Com qual legitimidade?

Mas, aqui, é necessário uma pausa, para discutir a corrupção.

Neste quesito, o moralismo seletivo dos golpistas é acachapante e obsceno: não querem investigação e punição justa dos corrupto, querem vingança e linchamento dos que estão no poder. Os ideológicos, querem anular qualquer avanço feito nos últimos anos para o estado de bem-estar social; os raivosos querem matar os que supostamente lhes fizeram mal; os oportunistas querem enfraquecer o campo oposto para tomarem o poder e, sem confiança no voto, se manterem no poder.

A corrupção, antes e durante o governo do PT, é de fato alarmante, gigante, nefasta e precisa ser combatida. O Brasil teria os instrumentos para combater a corrupção e já começou a usá-los. A polícia federal e o ministério público investigam, o judiciário julga e pune. E o executivo não interfere.

Enquanto isso, as novas leis de transparência e a crescente vigilância da sociedade pelas redes sociais caminham para denunciar e elucidar os malfeitos do poder público e, agora, do poder econômico das corporações.

Poder-se-ia elencar aqui este movimentos, mas alguns fatos – nacionais e internacionais – podem ser lembrados para entender que o combate a corrupção, mesmo dentro dos partidos e próprias instâncias do governo, não significam a derrubada do governo.

É bom que se diga que, em mais de um ano de investigação não conseguiram, por mais que tentassem, uma ligação entre o esquema superfaturamento de desvio de dinheiro em contratos entre empresas privadas com a Petrobras – vulgo Petrolão – e a presidente Dilma. O máximo que se chegou é à acusação hipócrita de que, como as empresas investigadas doaram para a campanha dela, então é dinheiro de corrupção. Mas, o que dizer ao ver estas mesmas empresas deram quantias até maiores para o principal candidato da oposição, o alucinado Aécio Neves?

Mesmo comprovadas e contabilizadas, com as contas de campanha aprovadas pelo TSE, estas doações estão suspeitas num eterno e destruidor terceiro turno. Mas o que dizer de acusações similares por operadores do esquema para a oposição? O que dizer de contratos com as mesmas empreiteiras assinados por governos liderados pelas oposições golpistas?

Não, não há legitimidade na acusação.

Nas investigações e no julgamento do suposto Mensalão, o país não parou. Os golpistas não tiveram ânimo para pedir o impeachment do Lula. E políticos e empresários foram presos e respondem por seus atos, com alguns danos para o Estado de Direito, estes muito mais no campo processual do que no campo investigatório em si.

Mas o país seguiu. A democracia foi fortalecida e a nuvem que pairou em cima do partido no poder não escureceu o futuro da nação.

No Reino Unido, parlamentares acusados de desmando foram execrados, defenestrados e punidos. Parlamentares do próprio governo, inclusive alguns ministros, foram envolvidos no lamaçal. Num parlamentarismo, seria mais fácil a troca de governo. Mas o governo não caiu e o escândalo de corrupção teve seu curso normal dentro da democracia e do estado de direito.

Agora, no Brasil, querem diferente. Abandonaram qualquer defesa da democracia e do estado de direito e querem ludibriar a nação para assumirem o poder e não dizem para que.

Esta é a diferença entre uma democracia sólida e uma em construção.

Os golpistas escondem atrás de uma imprensa criminosa por sua seletividade. Uma imprensa alinhada com os interesses econômicos e ideológicos. Uma imprensa aguerrida – no mau sentido – a criar uma narrativa de terra arrasada.

São Paulo, terra de arranha-céus, sabe muito bem o que é ter uma imprensa seletiva a favor de um governo alinhado com seus interesses. Há anos, mandos e desmando construíram a pior e mais assassina polícia no país; um sistema de saúde que destruiu um dos melhores hospitais do país, a Santa Casa; um governo que jogou no lixo o melhor canal de TV pública; uma administração que atrasa obras e assina aditivos com as mesmas empreiteiras acusadas na Alva Jato sem a população nem sequer ver os benefícios de trilhos construídos e, finalmente, o fechamento de escolas e o
descalabro na gestão de recursos hídricos.

Assim, tudo isso culmina com aumentos para o secretariado do governo Geraldo Alckmin, sem a imprensa nem sequer escrever um texto contra, e muito menos dar uma manchete. Sobre todos estes desmandos ficamos sabendo quase que por acaso.

É nesta imprensa parcial e bairrista – que também controla a maioria da informação em nível nacional – que vamos confiar?

Mesmo assim, governador eleito, e apesar de várias razões políticas, não se pede seu impedimento. Sustêm uns que, se a cobertura do governo paulista pela imprensa fosse equilibrada, Alckmin não seria eleito, pelo menos no primeiro turno e, durante o seu (des)governo, multidões pediriam seu afastamento.

Então, será nas simplórias explicações das chamadas pedaladas fiscais, nos fazendo de burros por achar que não entenderíamos o que realmente aconteceu e que já foi feito em governos anteriores sem um questionamento sequer, que vamos acreditar e aceitar o abandono de nossos sonhos?

A derrubada do governo tem um propósito, mas, pior do que isso, terá consequências gravíssimas.

De certo, na política não há vácuo e o que os ideológicos, raivosos e oportunistas promotores do golpe estão fazendo não é nada mais do que política: ocuparam um espaço deixado pelo governo Dilma. A disputa está aí.

Na sua incapacidade política, Dilma aceitou parte do receituário da oposição e fez o que disse em campanha que não faria, sem uma aceno sequer aos seus apoiadores. Assim, afastou de si uma rede de movimentos prontos para defender seu mandato. Agora, este espaço está sendo ocupado pelos desocupados que alimentam a ideia de golpe e em aberta disputa por todas as forças políticas.
Mas nem todos os erros políticos podem justificar sua derrubada do governo nestas circunstâncias, como não caíram nem governos anteriores Brasil e nem em outros países.

A defesa da democracia hoje é o principal mote para a mobilização em defesa do governo e contra o golpe.

E a cada dia fica mais claro: os que querem o derrubar o governo estão arrasando a terra para tomar o poder e nem por isso param um minuto para pensar no futuro da nação. Com apoio da mídia, dos corporativistas nos tribunais, dos conchavistas no TCU e do ministério público, se iludem de que não existem vozes contrárias. Mas existem sim: apesar de tudo e de todos os erros políticos não somos poucos os que vamos defender o nosso voto e nossos sonhos.







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