segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Como destruir a Democracia atacando suas instituições: primeiro o judiciário, agora a imprensa

É assim que se destrói a democracia: quando uma decisão não agrada, ataca-se a instituição. Na hora H, como bem sabia Hitler com seus camisas marrons da SA, ninguém reclamaria. É isto que estão fazendo os aloprados do impeachment e, em grau menor, os governistas.

Primeiro a ser atacado foi o TCU. Numa decisão que contrariou os governistas, a grita foi geral: o TCU não tem institucionalidade para 'julgar'; não é uma corte; seus 'togados' estão desmoralizados. O que antes era tomado como uma voz de equilíbrio na fiscalização do executivo, agora não vale nada.

Mas, pior que isso, é a grita dos líderes da oposição contra o STF diante do ordenamento jurídico para o rito do impeachment. O último atacar foi o Paulinho da Força, ventilando neste final de semana que a mais alta corte está 'aparelhada pelo PT'.

Após terem passado 9 meses buscando razões parajurídicas e processos céleres para destituir Dilma Rousseff, quando a voz do STF bloqueou a manobra, ao invés de buscar na política a reconstrução do consenso para o fim da crise, atacou-se o STF.

O 'ex-fundador' (SIC) do PT, Hélio Bicudo, se entregou de vez ao show de horrores antidemocráticos e se aliou à corja dos aloprados on-line, posando para uma foto com um de seus líderes, não antes de ventilar para toda a nação de que acreditava que o STF está a mando do PT.

Mas o sinal para os ataques às instituições já tinha sido dado dentro do próprio judiciário quando o ministro do STE e STF, Gilmar Mendes, atacou de forma vil a OAB e aprofundou o ataque ao PT (estas duas últimas são instituições não formais da república, mas são importantes em si: um representa uma categoria essencial para o funcionamento do judiciário que necessita do contraditório para pleno funcionamento do estado de direito, o outro uma instância política representando milhares de pessoas, de quem, independente dos crimes cometidos por sua cúpula, é a voz).

Barrados na sua marcha da insensatez, personificam as instituições e atacam a honra de todos. Nesta cavalgada já tinham se juntado a força tarefa do juiz Moro alegando que o 'fatiamento da Lava Jato' era a 'derrota do combate à corrupção' como se só eles poderiam passar o Brasil a limpo, atacando todos os outros juízes.

Começamos, assim, mais uma semana débil no cenário político brasileiro, com os políticos brincando com fogo.

Não vai sobrar ninguém, nem a imprensa se salvará desta sanha autoritária. Todas as instituições estão ameaçadas. E quando as institiuções caírem, quem defenderá o indíviduo?

Ao não gostar das perguntas feitas a Hélio Bicudo, O Movimento Brasil Livre, um dos grupelhos apoiadores do insano pedido de impeachment atacou quem? A imprensa. Nas redes sociais, convocou a sua horda alucinada para atacar a imprensa acusando-a de ser 'petista'.

Hitler tomou o poder, com apoio popular, inicialmente por meio de manobras legais e intimidação violenta dos opositores e das instituições. Chegou a queimar o Reichstag para acusar os comunistas e, à medida que ganhava poder, colocava seus camisas marrons para chefiar o estado policialesco, aí, sim, num aparelhamento criminoso do estado.

No fim, ninguém mais podia resistir ou criticar.

Paulinho resumiu bem a autoilusão da oposição de que não iria haver resistência e, num momento de lucidez, revelou para todos nós seu abjeto intento de tomar o poder, custe o que custar.

De um lado revelou que não acreditava que seria tão difícil fazer o impeachment. Pensou que não haveria resistência e, ao aliar-se a um político com fortíssimos indícios de ser corrupto, explicou que o que vale é 'derrubar Dilma'. Leu errado o momento político e o momento histórico do Brasil.

Mas, logo em seguida, concluiu: não deveríamos ter revelado nosso plano para a imprensa.

Ou seja, queria Paulinho que não houvesse imprensa.

Queria o conchavo e a conspiração fora da ordem democrática, queria tomar de assalto, na calada da noite, o governo por meio de seus processos ilegais de impeachment que não deveriam ser questionados. Queria que todos se calassem diante da uma Noite dos Longos Punhais que feriria de morte o governo e seus apoiadores e os alçaria ao poder absoluto, sem questionamentos.

A história nos ensina várias lições e uma delas é que a liberdade de expressão, a transparência e o controle social dos poderes instituídos só podem funcionar com instituições atuando com credibilidade. A outra lição é que as instituições são feitas de homens que passam, mas as instituições tem que ficar, e por isso ritos, burocracia, registros e processos são essenciais.

Já convivemos há anos com o Congresso autodesmoralizado pela sua falta de conexão com o povo, que, agora, é destruído ainda mais por um presidente criminoso se amarrando no poder com os farrapos de sua arrogância (chamo Eduardo Cunha de criminoso não por ter supostamente cometido crimes que ainda serão julgados, mas é criminoso por fazer de refém o Congresso e nação por interesse próprio).

O Executivo, liderado por uma líder política débil, porém honesta, está arranhado por uma falta de popularidade e de coerência na política econômica que permitem ataques diários partindo de uma imprensa combativa pelos seus próprios interesses, outra instituição autoimolada que já está sendo atacada pelos seus acertos e não pelos seus erros.

O ataque as nossas instituições é covarde e hipócrita e está abrindo uma caixa de pandora de onde sairão esqueletos que pensamos não existir mais na sociedade brasileira.

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