É assim que se destrói a democracia: quando uma decisão não
agrada, ataca-se a instituição. Na hora H, como bem sabia Hitler
com seus camisas marrons da SA, ninguém reclamaria. É isto que estão
fazendo os aloprados do impeachment e, em grau menor, os governistas.
Primeiro a ser atacado foi o TCU. Numa decisão que contrariou os
governistas, a grita foi geral: o TCU não tem institucionalidade
para 'julgar'; não é uma corte; seus 'togados' estão
desmoralizados. O que antes era tomado como uma voz de equilíbrio na
fiscalização do executivo, agora não vale nada.
Mas, pior que isso, é a grita dos líderes da oposição contra o
STF diante do ordenamento jurídico para o rito do impeachment. O
último atacar foi o Paulinho da Força, ventilando neste final de
semana que a mais alta corte está 'aparelhada pelo PT'.
Após terem passado 9 meses buscando razões parajurídicas e
processos céleres para destituir Dilma Rousseff, quando a voz do STF
bloqueou a manobra, ao invés de buscar na política a reconstrução
do consenso para o fim da crise, atacou-se o STF.
O 'ex-fundador' (SIC) do PT, Hélio Bicudo, se entregou de vez ao
show de horrores antidemocráticos e se aliou à corja dos aloprados
on-line, posando para uma foto com um de seus líderes, não antes
de ventilar para toda a nação de que acreditava que o STF está a
mando do PT.
Mas o sinal para os ataques às instituições já tinha sido dado
dentro do próprio judiciário quando o ministro do STE e STF, Gilmar
Mendes, atacou de forma vil a OAB e aprofundou o ataque ao PT (estas
duas últimas são instituições não formais da república, mas são
importantes em si: um representa uma categoria essencial para o
funcionamento do judiciário que necessita do contraditório para
pleno funcionamento do estado de direito, o outro uma instância
política representando milhares de pessoas, de quem, independente
dos crimes cometidos por sua cúpula, é a voz).
Barrados na sua marcha da insensatez, personificam as instituições
e atacam a honra de todos. Nesta cavalgada já tinham se juntado a
força tarefa do juiz Moro alegando que o 'fatiamento da Lava Jato'
era a 'derrota do combate à corrupção' como se só eles poderiam
passar o Brasil a limpo, atacando todos os outros juízes.
Começamos, assim, mais uma semana débil no cenário político
brasileiro, com os políticos brincando com fogo.
Não vai sobrar ninguém, nem a imprensa se salvará desta sanha
autoritária. Todas as instituições estão ameaçadas. E quando as institiuções caírem, quem defenderá o indíviduo?
Ao não gostar das perguntas feitas a Hélio Bicudo, O Movimento Brasil Livre, um dos
grupelhos apoiadores do insano pedido de impeachment atacou quem? A
imprensa. Nas redes sociais, convocou a sua horda alucinada para
atacar a imprensa acusando-a de ser 'petista'.
Hitler tomou o poder, com apoio popular, inicialmente por meio de
manobras legais e intimidação violenta dos opositores e das
instituições. Chegou a queimar o Reichstag para acusar os
comunistas e, à medida que ganhava poder, colocava seus camisas
marrons para chefiar o estado policialesco, aí, sim, num
aparelhamento criminoso do estado.
No fim, ninguém mais podia resistir ou criticar.
Paulinho resumiu bem a autoilusão da oposição de que não iria
haver resistência e, num momento de lucidez, revelou para todos nós
seu abjeto intento de tomar o poder, custe o que custar.
De um lado revelou que não acreditava que seria tão difícil
fazer o impeachment. Pensou que não haveria resistência e, ao
aliar-se a um político com fortíssimos indícios de ser corrupto, explicou que o que vale é 'derrubar Dilma'. Leu errado o momento
político e o momento histórico do Brasil.
Mas, logo em seguida, concluiu: não deveríamos ter revelado
nosso plano para a imprensa.
Ou seja, queria Paulinho que não houvesse imprensa.
Queria o conchavo e a conspiração fora da ordem democrática,
queria tomar de assalto, na calada da noite, o governo por meio de
seus processos ilegais de impeachment que não deveriam ser
questionados. Queria que todos se calassem diante da uma Noite dos
Longos Punhais que feriria de morte o governo e seus apoiadores e os
alçaria ao poder absoluto, sem questionamentos.
A história nos ensina várias lições e uma delas é que a
liberdade de expressão, a transparência e o controle social dos
poderes instituídos só podem funcionar com instituições atuando
com credibilidade. A outra lição é que as instituições são
feitas de homens que passam, mas as instituições tem que ficar, e
por isso ritos, burocracia, registros e processos são essenciais.
Já convivemos há anos com o Congresso autodesmoralizado pela sua
falta de conexão com o povo, que, agora, é destruído ainda mais
por um presidente criminoso se amarrando no poder com os farrapos de
sua arrogância (chamo Eduardo Cunha de criminoso não por ter
supostamente cometido crimes que ainda serão julgados, mas é
criminoso por fazer de refém o Congresso e nação por interesse
próprio).
O Executivo, liderado por uma líder política débil, porém
honesta, está arranhado por uma falta de popularidade e de coerência na
política econômica que permitem ataques diários partindo de uma
imprensa combativa pelos seus próprios interesses, outra instituição
autoimolada que já está sendo atacada pelos seus acertos e não
pelos seus erros.
O ataque as nossas instituições é covarde e hipócrita e está
abrindo uma caixa de pandora de onde sairão esqueletos que pensamos
não existir mais na sociedade brasileira.
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